O xAdReZ dE cAdA DiA


Sou um admirador do jogo de xadrez.

Nele, ao mesmo tempo, se relacionam arte, técnica, raciocínio, concentração e visão de futuro.

No jogo de xadrez encontramos uma bela metáfora da vida.

As dificuldades que vão surgindo à nossa frente, dentro ou fora do tabuleiro, devem ser avaliadas e superadas caso a caso, sem fórmulas prontas. Aprendemos que é preciso respeitar cada uma delas, respeitar cada adversário e cada adversidade, sem deixar com que a nossa mente crie problemas imaginários inexistentes, e sem ficarmos concentrados em apenas um curso de ação.

Cada um precisa administrar seus próprios recursos, traçar objetivos claros, aprender a lidar com surpresas, saber superar perdas inesperadas. Aprender a concentrar suas forças num rumo definido, numa estratégia geral harmônica. Saber o valor relativo de cada peça na imagem geral do tabuleiro.

Para ser um bom enxadrista, é necessário saber tirar vantagem de situações aparentemente desfavoráveis, acreditar que encontraremos uma solução para as equações que o tabuleiro (e a vida) nos apresentam.

É necessário saber equilibrar ousadia com paciência. Aprender a detectar o momento certo de agir, e o momento certo de esperar. Aprender a reconhecer suas fraquezas, e suas potencialidades.

Muitas vezes nossa concentração fica prejudicada por preocupações e divagações aleatórias, que atrapalham o bom fluxo de raciocínio na visão do jogo. Sem a atenção necessária, pode ocorrer de perdermos alguma peça importante, de traçarmos alguma estratégia inadequada, de enfraquecermos nosso rol de opções disponíveis para a conquista do objetivo traçado.

E, ainda assim, dentro ou fora das sessenta e quatro casas, sabemos que nem tudo depende de nós. Alguma situação imprevista, algum movimento inesperado, e, subitamente, precisamos mudar todos os nossos planos. Todo aquele planejamento inicialmente desenhado em sua mente acaba se perdendo em meio a novas exigências do traçado estratégico que se perfaz a cada momento.

Então, é preciso redesenhar, refocalizar, reerguer, reconquistar, recomeçar.

Devemos fazer o melhor com aquilo que possuímos. Nossos dons, nossas habilidades, nossos talentos, são todos peças que movimentamos no tabuleiro da nossa vida. Assim como cada peça de xadrez tem seu valor relativo para o desenrolar do jogo, nossos talentos e habilidades também podem ser aproveitados em todo o seu potencial, ou guardados para utilização num futuro incerto. Cada um traça sua estratégia como pode, como aprendeu, como consegue, como supõe ser melhor. E seguimos atuando neste tabuleiro, muitas vezes sem percebermos a harmonia subjacente ao conjunto maior de movimentos. Cada ação tem uma reação, cada movimento tem seu reflexo, cada passo tem seu eco e sua parcela na construção do todo.

E então, algum belo dia, quando vier o cheque-mate, a jogada final que nos apresentará novos desafios fora do tabuleiro, que tenhamos a tranqüilidade e a certeza de sorrir rumo ao infinito, sabendo que cada peça foi movimentada com propósito, que cada movimento foi alçado com serenidade, e que cada jogada foi um passo necessário na estratégia do jogo maior.

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