"Cirque du Soleil" e a moça da muleta
Recentemente tive a oportunidade de assistir a mais uma apresentação do "Cirque du Soleil", numa viagem que fiz. Fantásticas demonstrações de superação e excelência nas capacidades humanas. Capacidades que todos nós possuímos, em maior ou menor grau, porém multiplicadas por dedicação extrema, prática constante, busca da perfeição, persistência, compromisso, disciplina. Tantas são as qualidades e virtudes evocadas ao se mergulhar num daqueles espetáculos, que invariavelmente surgem em nós questionamentos de grandeza, vontade de ser melhor, crença em nossa própria capacidade de sermos mais brilhantes, mais cuidadosos e zelosos em nossas habilidades e dons.
Em meio a malabarismos incríveis em números de solo, ou de trapézio, ou de equilíbrio, surgem dois palhaços, não menos importantes, intercalando pitadas de humor entre os momentos de tensão reinantes nas apresentações mais perigosas. Saltos mortais numa corda bamba a dez, vinte metros de altura. Globo da morte. Milimetricamente calculados saltos de trapezistas intercalando um balé aéreo cheio de cores com demonstrações de extrema confiança, onde tudo o que resta ao trapezista, no ar, é a certeza de que, dentro de alguns segundos, seu companheiro estará de mãos estendidas para salvar-lhe de uma queda.
Uma mocinha começa a fazer desenhos numa mesa iluminada por baixo, projetada em escala gigantesca ao fundo do palco, porém desenhos utilizando apenas areia, jogando areia, tirando areia, salpicando areia, numa velocidade incrível, enquanto figuras fascinantemente detalhadas e graciosas iam surgindo em meio aos rápidos movimentos daquela artista, que ali demonstrava não serem dons divinos apenas a inteligência corporal ligada ao equilíbrio ou à força, mas também a inteligência artística ligada à graça e à sensibilidade.
Já em Santos, voltando do trabalho para casa, no caminho até o estacionamento, visualizo à minha frente na calçada uma moça, não mais do que trinta anos de idade, deslocando-se a passos firmes rumo ao seu desconhecido destino, com o auxílio de duas muletas, por conta de alguma dificuldade física pessoal. Aquela situação não parecia incomodá-la naquele momento, em que pese ser presumível a superação prévia de incontáveis momentos de questionamentos, dúvidas, raiva, revolta, e incertezas. Mas não ali. Ali reinava a determinação de retornar ao seu lar, após um dia de trabalho, ou de estudo. A serenidade de saber aceitar as dificuldades apresentadas diferentemente a cada um de nós, seres humanos mortais passageiros da nave-Terra. Falsas noções de piedade não ajudarão, uma vez que outros diversos desafios e obstáculos se fazem presentes na vida de cada um dos afortunados moradores deste nosso planeta.
Não saberia dizer, nem comparar. Talvez arrisque sugerir. A excelência é um caminho pessoal. O mesmo brilhantismo dos espetaculares equilibristas do circo estava ali estampado à minha frente, numa caminhada ao fim do dia de trabalho. A superação do ordinário e sua transformação em extraordinário é um quadro branco, à espera do seu pincel. As tintas e as cores, é você quem escolhe. Os traçados terão sua marca, suas preferências, e sua assinatura ao final. Que tela você quer deixar para o mundo?
Estou adorando seus textos, Sabio Sandro! Virei seguidora. Keep up the good work. bjo grande, Mona (Loyola).
ResponderExcluirMuito boa a proposta de reflexão.....admiro mais a da muleta que a do Soleil.
ResponderExcluirAbraço,
Cabral
Oi Mona! Muito obrigado querida! Considering you are now a follower, I will have then to improve the search for excellence in the writing! Beijão!
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Mestre Cabral! Obrigado pela visita! Pois é! Duas situações meio opostas, mas que no fundo compartilham características em comum! Grande abraço!